segunda-feira, agosto 01, 2005

Palavras para quê

Foi num daqueles fim de tarde que nos fazem esquecer tudo o resto e nos arrastam para um lugar que normalmente desconhecemos. Aquele em que o amanha não existe, aquele em que somos maiores e voamos sempre mais alto que o próprio céu.

Eu olhava o horizonte como se não existisse mais nada e tu estavas parado ao meu lado como que à espera que eu me lembrasse que estava frio, que querias ir embora, que tinhas fome, não sei... não sei propriamente o que esperavas, mas sei que continuavas ao meu lado e que não dizias nem uma palavra. Sabias que não era altura de me incomodares, que não era altura de nada. Era tempo de sossego, de paz, de viajar mais além.

Até que o dia escureceu e o meu corpo avisou-me que estava frio, lembrei-me que tinhas estado ao meu lado todo aquele tempo (sem dizeres uma palavra), acho até que nem te ouvi respirar. Tenho a sensação que até nem me ouvi a mim, ouvi o mar a cantar, o vento a soprar, umas crianças ao longe, a rir. Foi então que de repente olhei para ti e sorri, como quem diz sem dizer, “vamos”, e tu respondeste-me quando me estendeste a mão, apertas-te a minha e levaste-me tão suavemente que não pude sequer negar.