terça-feira, novembro 22, 2005

Já tinhas o cabelo todo branco,

mas para mim parecia-me que sempre tinha sido assim, toda a tua vida. Não tinha a noção da tua idade, eras apenas adulta, nada mais. Tratavas-me como uma senhorita.

Cada coisa que eu dizia era importante para ti. Convidavas-me a estar em tua casa, à lareira mostravas-me livros explicavas-me coisas, quando me sentava no sofá, traçava a perna, só para me sentir maior, mais parecida contigo. Quando fazia sol ia-mos para a varanda beber limonada.

Adorava aquela carpete verde, aquele cinzeiro de pé alto, ao lado do sofá, aquele candeeiro enorme que parecia saído de um qualquer filme. Aquela casa que me fazia sonhar. De vez em quando sentávamo-nos na carpete para brincar e rir. Éramos amigas.

Ficaste sem aparecer, senti a tua falta. A última vez que te vi, aprendi uma lição nova, a última que me ensinaste.

Que partir significa nunca mais te ver. Nunca mais te ouvir rir. Nunca mais escutar uma história tua.

Desde então, as minhas memórias tomaram um outro significado para mim.