Tão actual...
«O Ministério da Qualidade de Vida atirou uma pedrada no charco da indiferença onde bóiam, sem tino, muitos dos mais graves problemas que afectam o espaço biológico e físico em que vivem os portugueses e de que depende o seu futuro.
Servirá este gesto para alertar os responsáveis pelo território nacional? Ou, pelo contrário, o ministro será severamente criticado, para que o processo em curso de degradação sistemática dos valores e potencialidades do território continue a avançar? Não queremos acreditar que a pedrada atirada àquele charco seja mais uma vez um aviso que não será atendido e, bem depressa, esquecido.
(...)
A ÁGUA E A SUA GESTÃO
A água doce é um bem que tende hoje, em muitas zonas do Mundo, a ser cada vez mais raro durante períodos muito longos e em excesso durante algumas horas ou poucos dias, pelo que o seu aproveitamento deverá ser rigorosamente disciplinado. O consumo previsível nunca deve exceder os caudais disponíveis na região ou a visibilidade económica se os houver de transportar a partir de outras regiões.
No Algarve e no resto do país tudo tem caminhado ao contrário. Permite-se o crescimento urbano, promovendo-se a concentração excessiva de populações permanentes ou veraneantes, em áreas limitadas, sem que previamente se tenha viabilizado o seu abastecimento em água potável e construído o sistema de esgotos e de transformação dos desperdícios adequado.
Não quiseram entender assim muitos responsáveis dos governos e autarquias locais, nem muitos dos empreendedores de construções para fins turísticos quiseram olhar a esta realidade. Tudo ficaria para se resolver depois de feito aquilo dá directamente lucro.
O resultado está à vista: falta de água potável, esgotos sem destino e tratamento adequado, praias e rios poluídos, inundações periódicas. No Algarve, os furos para abastecimento de água doce às populações fornecem, afinal, água salobra porque o manancial de água doce, sobrenadante, se esgotou e é chupada agora água salgada que se situa por debaixo daquele.
A gestão dos recursos hídricos deverá estar a cargo de entidades interdisciplinares com a participação das autarquias abrangendo bacias hidrográficas ou sistemas hidrológicos relacionados entre si. Procurar realizar uma política eficaz e economicamente viável, através da doação de verba a municípios cujos territórios, são geralmente apenas parte limitada dessas bacias hidrográficas, constitui um desperdício de esforços e nunca a partir dessa política se poderão resolver os problemas da água e da sua poluição.
...»
Excerto do texto Turismo e Território do Arquitecto Paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, Publicado no jornal A Capital em 26 de Setembro de 1984
E vinte e um anos depois...
2 Comments:
Até parece que não sabes como este país funciona...
Até parece algo de extraordinário.
Em Portugal não faltam pessoas competentes e capazes que nos vão avisando ano após ano. mas quê?
cabe-nos a nós inverter a ordem das coisas...
ainda que pouco a pouco, a situação há-de mudar!
se tal não acontecer progressivamente , há sempre a via da revolução armada e violenta!!!
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