sexta-feira, novembro 25, 2005

Ia no seu passo apressado,

como de costume. Já tinha passado a passadeira da avenida, que àquela hora estava muito movimentada, e entrado no jardim. Seguia pelo caminho principal, sem ver o que estava a sua volta, o caminho era sempre o mesmo, pensava que já o conhecia de cor, nem sequer precisava de olhar, de o ver, de o sentir.

O telefone tocou, sentiu-o no bolso de dentro do casaco. Era habitual tirar-lhe o som, raramente se lembrava de o voltar a ligar. Retirou-o e atendeu-o sem sequer ver quem era.

Chocou com uma senhora que vinha no sentido contrário. Parece que hoje vinha especialmente abstraído do que o rodeava. Vinha mais distraído. Pediu desculpa e continuou.

A voz do outro lado ainda não se tinha calado, mas ele parecia que ainda não tinha ouvido nada.

Até que do outro lado salta um berro:

- “ESTÁS ME A OUVIR?”
- “Desculpa, desculpa, estou aqui. Sim, diz...”

Foi abrandando o passo, cada vez mais, cada vez mais devagar. Parou. Parecia-lhe o que mundo todo à sua volta tinha parado também...

Sentou-se no banco de jardim, estático, com o telefone na mão...

E ali ficou...